VAR sem coração? Árbitro do jogo Corinthians x Athletico manda a real: “Aqui não tem espaço pra emoção”

Corinthians avança à semifinal da Copa do Brasil em jogo marcado por controvérsias

O Corinthians garantiu sua vaga nas semifinais da Copa do Brasil em uma partida eletrizante contra o Athletico-PR, disputada na Neo Química Arena. A vitória por 2 a 0, que selou a classificação, foi acompanhada de intensos debates sobre as decisões da arbitragem, liderada por Davi De Oliveira Lacerda. A atuação do árbitro de vídeo (VAR) também se tornou um ponto central de discussão, com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgando os áudios da comunicação entre o juiz de campo e Diego Pombo Lopez, responsável pelo VAR, em lances cruciais.

Áudios do VAR revelam tensão e dúvidas

A CBF tornou pública a comunicação entre o árbitro e o VAR em dois momentos determinantes do jogo: o gol anulado do atacante Kevin Viveros e o pênalti assinalado a favor do Athletico-PR, resultante de um toque de mão de Matheuzinho dentro da área. Foi justamente nesse último lance que a conversa entre os árbitros revelou um momento de tensão, com o juiz de campo demonstrando impaciência com a demora e a incerteza do responsável pelo VAR na tomada de decisão.

A transcrição do diálogo expõe a minúcia da análise e a dificuldade em determinar com precisão se a infração ocorreu dentro ou fora da área. A indisponibilidade de imagens de um drone, que poderiam oferecer um ângulo mais claro, adicionou ainda mais complexidade à situação. A conversa tensa culminou em uma reprimenda do árbitro ao VAR, ressaltando que a arbitragem deve se basear em imagens, e não em “sentimentos”.

Confira abaixo alguns trechos marcantes da comunicação:

  • VAR: “Para no ponto de contato. Quero ver se foi dentro ou fora”
  • AVAR: “Davi…checando se foi dentro ou fora, tá? Aguarde”
  • AVAR: “Essa [imagem] não é conclusiva”
  • VAR: “Temos o drone, aquela de cima?”
  • AVAR: “Não temos. Estava desligado”
  • VAR: “Aguarda, Davi. O lance é muito fino…dentro ou fora”
  • VAR: “Essa é a melhor imagem que a gente tem?”
  • AVAR: “Essa é a melhor imagem que a gente tem…”
  • AVAR: “…as imagens não são conclusivas, cara”
  • VAR: “Eu tenho o sentimento de que essa bola está fora, mas não são [imagens] conclusivas”
  • VAR: “Davi, a situação é muito fina. Muito fina. Preciso que você venha me ajudar a avaliar, por favor. O lance não é conclusivo, cara. Tenho o sentimento que essa bola está fora, mas é um sentimento”
  • ÁRBITRO: “A gente não trabalha com sentimento, tá? A gente trabalha com imagem”
  • VAR: “Exatamente…”
  • ÁRBITRO: “Eu tenho alguma [câmera] invertida? Eu tenho uma câmera lá no fundo, velho. Está na linha essa câmera”
  • ÁRBITRO: “Eu não tenho um ângulo conclusivo. Tenho a marcação de campo e vou manter a marcação de campo, ok?”
  • VAR: “…perfeito”

Apesar da defesa espetacular do goleiro Hugo Souza na cobrança de pênalti, impedindo que o Athletico-PR marcasse, o lance continuou a gerar debate entre torcedores e especialistas. A divulgação dos áudios do VAR, prática cada vez mais comum no futebol brasileiro, visa dar transparência às decisões da arbitragem, mas também expõe a complexidade e a subjetividade envolvidas na interpretação das jogadas.

Gol anulado e a interpretação do VAR

Outro lance que gerou grande repercussão foi o gol anulado de Kevin Viveros, do Athletico-PR. Após revisão do VAR, o árbitro assinalou uma falta do atacante no volante Maycon no início da jogada. A decisão, baseada em um suposto "tranco" nas costas do jogador corintiano, também dividiu opiniões.

A conversa entre os árbitros revelou que a análise do lance foi minuciosa, com diferentes ângulos e perspectivas sendo considerados. Inicialmente, o VAR não identificou uma falta clara, mas a revisão das imagens em detalhe revelou um contato nas costas de Maycon, considerado suficiente para justificar a anulação do gol. Os pontos do diálogo da revisão do lance:

  • VAR: “Quero ver novamente aqui se é um contato faltoso”
  • VAR: “Tem uma disputa aqui e de fato tem um contato, só que para mim esse contato não é faltoso, ok?”
  • AVAR: “Para mim tem um [contato no] tronco, para mim é dentro da disputa e não tem impacto para a queda dele.
  • VAR: “Vê se tem algum toque embaixo”
  • AVAR: “Não, não tem…”
  • VAR: “Tem um contato lateralizado, mas que para mim também é um contato de disputa”
  • VAR: “Veja se tem nas costas…”
  • AVAR: “…aqui, sim. Tem um contato nas costas que dá claramente uma falta no adversário”
  • VAR: “Recomendo revisão para uma possível falta, um tranco nas costas, ok?”
  • VAR: “O contato embaixo é de disputa. No entanto, em cima tem um tranco nas costas deslocando completamente o jogador da disputa”
  • VAR: “Após o tranco, o jogador de branco fica impossibilitado de disputar a bola”
  • ÁRBITRO: “Para mim está claro que o tranco é nas costas. Estou voltando com tiro livre direto a favor do branco, ok?”

Esses lances polêmicos, amplamente debatidos em programas esportivos e nas redes sociais, demonstram o impacto da tecnologia no futebol moderno e a importância de um protocolo claro e consistente para a utilização do VAR. Embora o objetivo seja reduzir os erros de arbitragem, a interpretação dos lances continua sendo um fator crucial, e as decisões nem sempre agradam a todos.

Semifinal e premiação

A classificação para a semifinal da Copa do Brasil não apenas garante ao Corinthians a chance de lutar por mais um título, mas também representa um importante reforço financeiro para o clube. Com a vaga, o Timão embolsou cerca de R$ 9,9 milhões em premiação. A semifinal está prevista para novembro, após o término do Campeonato Brasileiro, nos dias 10 e 14.

O adversário do Corinthians na semifinal sairá do confronto entre Cruzeiro e Atlético-MG. O Cruzeiro leva a vantagem, após vencer o primeiro jogo por 2 a 0. A conquista da Copa do Brasil é um objetivo importante para o Corinthians, que busca quebrar um jejum que persiste desde 2009. O clube chegou perto do título em 2018 e 2022, mas acabou ficando com o vice-campeonato.