Novas Regras no Atletismo: Testes Genéticos para Atletas Femininas Visam Integridade da Competição
O cenário do atletismo feminino de elite está prestes a passar por uma mudança significativa. O Conselho Mundial de Atletismo implementou novas regulamentações que exigirão que todas as atletas participantes de eventos de ranking mundial se submetam a um teste genético único para o gene SRY. Essa medida, segundo a World Athletics, visa assegurar a integridade e a justiça dentro da competição feminina.
O Que Muda com os Novos Regulamentos?
A partir de agora, a presença do gene SRY – um indicador considerado confiável do sexo biológico – será verificada em todas as atletas da categoria feminina. Esse gene, localizado no cromossomo Y, desempenha um papel crucial no desenvolvimento das características consideradas masculinas. A detecção desse cromossomo Y será um dos critérios para determinar a elegibilidade para competir na categoria feminina.
A implementação dessas regras já começou no Campeonato Mundial de Atletismo, marcando um novo capítulo para a modalidade. As federações membros serão responsáveis por supervisionar o processo de teste, preparando suas atletas para o campeonato.
Embora a questão da participação de atletas transgênero em competições femininas seja um tema amplamente debatido, é importante ressaltar que este teste genético não está diretamente ligado a essa discussão. O foco principal é determinar o sexo biológico de cada atleta, garantindo que as competições sejam justas e equitativas para todas as participantes.
A Ciência por Trás da Decisão
A decisão de implementar esses testes genéticos não surgiu do nada. Ela se baseia em evidências científicas que indicam que atletas que nasceram com cromossomos XY e passaram pela puberdade masculina tendem a ter vantagens fisiológicas em relação às atletas que nasceram com cromossomos XX e não possuem o gene SRY. Essas vantagens podem incluir maior massa muscular, força e densidade óssea.
Um estudo publicado na revista “Sports Medicine” revelou que atletas que passaram pela puberdade masculina podem ter uma vantagem de desempenho de até 12% em algumas modalidades esportivas. Essa diferença de desempenho pode ser crucial em competições de alto nível, onde cada milésimo de segundo pode ser determinante para a vitória.
Diferenças no Desenvolvimento Sexual (DSD)
Esses testes genéticos são particularmente relevantes em casos de atletas com Diferenças no Desenvolvimento Sexual (DSD). Indivíduos com DSD podem apresentar uma combinação de características genéticas, hormonais e anatômicas que não se enquadram nas definições típicas de masculino ou feminino. Em alguns casos, atletas com DSD podem ter genitália externa feminina, mas possuir testículos internos funcionais.
A implementação dos testes genéticos visa garantir que atletas com DSD compitam em categorias apropriadas, levando em consideração suas características biológicas e garantindo a integridade da competição feminina.
A Posição da World Athletics
Segundo Sebastian Coe, presidente da World Athletics, a prioridade da organização é proteger e promover a integridade do esporte feminino. Ele enfatiza que é fundamental garantir que as mulheres que participam do atletismo acreditem que não há um “teto de vidro biológico” que as impeça de competir em igualdade de condições.
Coe defende que, no nível de elite, para competir na categoria feminina, é essencial ser biologicamente feminina. A World Athletics acredita que o gênero não deve prevalecer sobre a biologia, e que é necessário criar condições justas e equitativas para todas as atletas.
Recomendações do Grupo de Trabalho
Os novos regulamentos seguem as recomendações do Grupo de Trabalho de Atletas de Gênero Diverso, que dedicou mais de um ano ao estudo das questões relacionadas à participação de atletas de gênero diverso no esporte. Entre as principais recomendações do grupo, destacam-se:
- Afirmação formal do design e dos objetivos da categoria feminina.
- Revisão dos regulamentos de elegibilidade para garantir a consistência com o design e os objetivos da categoria feminina.
- Adoção de um requisito de autorização prévia para todos os atletas que competem na categoria feminina.
A Definição da Categoria Feminina
A Regra de Elegibilidade 3.5 define a categoria de atleta feminina como composta por:
- Mulheres biológicas.
- Mulheres biológicas que utilizaram testosterona como parte do tratamento de afirmação de gênero masculino, desde que cumpram as regras antidoping.
- Homens biológicos com Síndrome de Insensibilidade Andrógena Completa.
- Homens biológicos com diferença de desenvolvimento sexual que atendam às disposições transitórias emitidas pela World Athletics.
Um Debate Global
A questão da participação de atletas transgênero e de gênero diverso no esporte tem gerado debates acalorados em todo o mundo. Em diversas modalidades, como no boxe, essa questão ganhou ainda mais destaque, com críticas e discussões públicas envolvendo personalidades de diferentes áreas.
Órgãos reguladores internacionais, como o Comitê Olímpico Internacional (COI), têm buscado uma abordagem geral para lidar com o tema no esporte, visando criar diretrizes claras e justas para todas as modalidades e atletas.
A implementação dos testes genéticos no atletismo é um passo importante nesse debate, buscando equilibrar a inclusão e a integridade da competição, garantindo que todas as atletas tenham a oportunidade de competir em igualdade de condições.